“Não existe bem sem um mal que lhe corresponda”
C. G. JUNG
E o Guimarães Rosa emenda, de novo: “Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querer o mal por principiar.” O sertanejo de Cordisburgo parece que já sabia o que Jung passou a vida tentando transmitir: aquilo que experimentamos como “consciência” é um campo de luz, no meio da escuridão original, produzido pela energia gerada por pares de opostos (bom e ruim, certo e errado, alto e baixo, bem e mal …).
Existirem sempre juntos, portanto, é condição sine qua non para a existência da consciência, é o preço luciferino que temos que pagar para a evolução da inconsciência puramente animal para o discernimento humano. Assim, as lutas que os romances, filmes, novelas, mitos, lendas e contos narram entre o Bem e o Mal, entre o mocinho e o vilão, são scripts inescapáveis por exprimirem o que está na origem da consciência que os lê ou assiste.
Ou seja, ao buscar, querer ou pedir algum bem, precisamos estar preparados para o mal que vem junto. Isso vale para o indivíduo e para a sociedade. Viver dentro dessa realidade é, para o primeiro, amadurecimento e sabedoria; para o segundo, evolução e civilidade.