
“A liberdade é a possibilidade do isolamento”
Fernando Pessoa
E o poeta português da Tabacaria continua, inclemente:
“Se te é impossível viver só, nasceste escravo. …Ai de ti se, tendo nascido liberto, a penúria te força a conviveres. …Nascer liberto é a maior grandeza do homem.”
Jung precisou gastar todo o seu latim para esclarecer que individuação não tem a ver com individualismo (aliás, é o oposto de todo “ismo”). Isso porque insistia que ser capaz de ficar sozinha consigo mesma é um valor da pessoa, um mérito e uma vantagem em relação às demais, pois o caminho para a construção de uma personalidade sólida passa pela experiência do “deserto”, onde ela descobre aquilo que a sustenta quando ela própria não é capaz de se sustentar.
A observação, triste, do descrédito generalizado disso no mundo ocidental (o do oba-oba vendido no atacado) foi o que o levou a sentenciar, engrossando o caldeirão do poeta:
“Todos nascemos originais… e morremos cópias”
Sem liberdade e arrastada pela multidão, a pessoa termina por fazer o que todos fazem. Pronto, uma originalidade de alma foi abortada. Os religiosos chamaram isso de “foi para o inferno”.
Mas o Fernando, que foi uma Pessoa, teve o cuidado de rematar:
“Enquanto não atravessarmos
A dor de nossa própria solidão,
Continuaremos
A nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
Necessário ser um.”
Simples assim. Álgebra elementar, meu caro Watson!