

Jung encontrou uma forma genial, além de poética, para descrever a dinâmica da libido dentro do aparelho psíquico, entre os sistemas consciente e inconsciente. Chamou os polos de opostos (necessários para a existência de energia) de Masculino e Feminino, aproveitando a linguagem milenar da medicina chinesa. E observou que, ao longo do crescimento do indivíduo, à medida que a consciência ia se diferenciando de uma forma mais masculina, ia se formando no inconsciente uma figura com traços mais femininos. A esta figura deu o nome de Anima. E, inversamente, à medida que a consciência ia se diferenciando de uma forma mais feminina, ia se diferenciando no inconsciente uma figura com uma forma mais masculina. Deu a essa figura o nome de Animus. E à força de atração entre esses dois polos, entre essas duas figuras de tonalidades opostas, uma na Consciência (identidade do Eu) e outra no Inconsciente (Anima ou Animus) nós todos chamamos de Paixão. Sem dúvida a atração magnética que mais gerou livros, filmes, poemas, músicas, teatro e … tragédias.
Sim, porque todo conteúdo do Inconsciente que precisa ser integrado à consciência em função do Processo de Individuação é, primeiro, projetado pelo Si-mesmo em um objeto externo, vivenciado através desse objeto e, com o tempo, retorna ao sujeito para ser integrado ao acervo de sua consciência. Ou seja, o objeto é a ponte entre o Inconsciente e a Consciência do indivíduo. O conteúdo sai do inconsciente, passa pelo objeto através da projeção e retorna para o sujeito, só que não mais inconsciente, mas sim uma oitava acima na escala de consciência, propiciada pela vivência do conteúdo no mundo externo. E assim sucessivamente até a realização de todos os conteúdos potenciais possíveis do Inconsciente, e o atingimento do máximo grau de realização de consciência do sujeito em questão.
Mas sempre tem uma pedra no meio do caminho. E entre o Eu consciente do indivíduo e essa figura (Anima/Animus) que personifica o Inconsciente existe a Sombra, que é a parte inconsciente da identidade do sujeito. Inconsciente porque inferior, primitiva, vulgar e amoral. Quando o Si-mesmo projeta a Anima/Animus em uma figura externa, se a Sombra ainda estiver inconsciente, mais cedo ou mais tarde ela vai junto. Aí que é o Deus nos acuda.
É a continuação da bela canção do nosso insuperável romântico Roberto Carlos:
“Estou guardando o que há de bom em mim,
Para lhe dar quando você chegar;”
E o que há de ruim para quando sair.
Eis a causa da alienação parental e do feminicídio enquanto fenômenos de massa.
Por isso a 1ª etapa do Processo de Individuação, quando ocorre no quadro de uma psicoterapia, precisa ser o enfrentamento da Sombra. Depois, a integração da Anima/Animus.